A literatura sobre liderança..., é abundante. Três referências ao tema da gratidão confluíram para a decisão de escrever sobre ele. A primeira, e a mais singela, encontra-se num livro que é uma delícia de ironia e de sabedoria. O trabalho chama-se "Up the Organization" e foi escrito por um homem com profunda experiência prática, Robert Townsend. O livro é, na verdade, uma pequena enciclopédia experiencial, organizada por entradas. Uma delas é precisamente "Thanks". O texto é esclarecedor: "Uma forma de compensação realmente negligenciada". Ponto final. A segunda referência que se recomenda sobre o tema é o livro "Obrigado!", de Robert Emmons, com edição portuguesa da Estrela Polar. A capa amarela com flores pode afugentar alguns leitores mas é preciso dizer que este é mais do que um livro de auto-ajuda. Emmons é professor na Universidade da Califórnia e editor do "Journal of Positive Psychology", uma revista científica dedicada às forças psicológicas humanas. O livro, devidamente fundamentado em trabalho científico, revela uma série de factos interessantes, embora não necessariamente surpreendentes, sobre o poder da gratidão: que beneficia a saúde; que estimula a qualidade dos relacionamentos; que potencialmente melhora a criatividade e o desempenho. Tudo factos aparentemente triviais, que todavia são diariamente torpedeados no mundo das empresas. A explicação para esta discrepância é simples e não necessariamente boa: o mundo das empresas não se compadece com estas formas de "moleza". Se o leitor preferir uma explicação mais elaborada, pode dizer que "when the going gets tough the tough gets going". A terceira referência ao tema, encontrei-a na edição de 24 de Novembro de 2010 do "Wall Street Journal Europe". O título da peça é "Giving thanks benefits your well-being". O texto discute os efeitos reparadores da gratidão, bem como o poder da reciprocidade. Damos aos outros na medida em que recebemos: quem dá gratidão recebe-a também em troca; quem pratica a ingratidão não deve esperar paga diferente. O "WSJ" consulta Emmons e refere, entre outros aspectos, o poder da gratidão para contrariar o "enviesamento de negatividade" - a nossa tendência para matutar sobre o negativo - bem como o poder de um agradecimento feito em pessoa - mais do que por mail ou telefone. Sendo o anterior óbvio, como explicar, a título de exemplo, o pedido de um chefe, sexta ao final do dia, para que uma sua colaboradora lhe entregue um determinado relatório segunda pela manhã? E como entender a reacção à entrega atempada, "Ah, deixe aí. Agora não tenho tempo, mas quando puder leio." Liderar pode ser um exercício de maquiavelismo simplório. Pense para terminar, caro leitor, na sua própria organização e conte o número de obrigados que recebe. Experimente depois agradecer mais vezes àqueles que o rodeiam - quando for justo e justificado. Mas esteja mais atento às oportunidades. E depois conte os obrigados que recebe de volta. E, já agora, obrigado por ter chegado ao fim. *O ingrediente (pouco) secreto da liderança Professor catedrático, Faculdade de Economia, Universidade Nova de Lisboa Assina a coluna do NEGOCIOS mensalmente à sexta-feira 28 Janeiro2011 | 11:36 Miguel Pina e Cunha |
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