Tudo tem de correr bem à Europa para que talvez não corra mal a Portugal. Mas estaremos nós de sucesso em sucesso até à derrota final? Depois do sucesso da colocação directa de mil milhões de dívida na sexta-feira (mas pagando mais caro que nos mercados), tivemos na terça-feira o sucesso de ficar com um défice em 2010 abaixo de 7,3% (mas só por causa do fundo de pensões da PT) e na quarta-feira o sucesso da emissão de dívida pública (mas a um preço ruinoso, como lhe chamou Krugman). Três sucessos que, contudo, só valem porque a Europa está a ajudar, por enquanto, através do Banco Central Europeu. Mas estamos a correr uma maratona à velocidade de um sprint e saltando barreiras. Portugal tem tolerância zero. É por isso que José Sócrates anda a percorrer o mundo com uma "valise en carton", ora vendendo t-shirts portuguesas, ora pedindo empréstimos a estrangeiros. É por isso que o Ministério das Finanças tem a obrigação de usar os poderes que lhe foram dados e não deixar a despesa derrapar um cêntimo, mês após mês. Este tem de ser o ano da execução orçamental perfeita. Mas não chega. Portugal tem de ter uma agenda para o crescimento sustentado, como explicou há dias o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa. O problema financeiro regressará enquanto não resolvermos o problema económico: o crescimento. "Reformas estruturais" não é um chavão - é uma chave. O crescimento que temos pela frente é baixo ou recessivo. E os juros que temos pela frente são, de uma forma ou de outra, altos. Esta semana, arrepiámo-nos com a taxa de juro que pagámos no mercado. Mas qual é a alternativa? O FMI? Não: o recurso ao fundo europeu é muito mais caro do que se supunha. A Irlanda está a pagar ao FMI taxas mais caras (5,8% a três anos) do que Portugal esta semana pagou aos mercados (5,4% a quatro anos). No contexto actual, pagaremos o financiamento externo sempre caro, seja à China, seja ao BCE, seja aos mercados, seja ao FMI. Com juros sempre altos e crescimento sempre baixo, a equação não cubica. E corremos o risco de entrar numa espiral negativa e o risco de execução orçamental passar da despesa para a receita: é o paradoxo dos processos de consolidação brutais, como o que enfrentamos. A acção de política financeira corta despesa de forma abrupta, o que provoca recessão; com recessão, as estimativas de receitas fiscais não são cumpridas e o défice aumenta; a reacção é voltar a cortar despesa, o que volta a prejudicar a economia. É o que se está a passar na Grécia. É o que pode acontecer em Portugal. É por tudo isto que já não dependemos de nós. O pedido de ajuda ao FMI será feito se e quando os actores europeus decidirem. Mesmo sem essa ajuda, estamos num percurso de juros altos e crescimentos baixos, o que provoca um definhamento vicioso. O enigma só tem solução ou na multiplicação das exportações que nos faça inesperadamente crescer; ou na reestruturação da dívida (perdões ou prorrogações); ou se a Europa decidir ajudar os europeus como se ajudou os sul-americanos: com taxas de juro muito baixas. Barroso tem razão em defender o alargamento do fundo (para mostrar que ele basta para Espanha), a sua flexibilização (para que se possa ajudar bancos sem o estigma de salvar os Estados, como na Irlanda) e o seu custo (para emprestar a países que não crescem, como Portugal). Neste momento, Portugal não tem escolhas, tem escolhos. 14 Janeiro2011 | 11:00 Pedro Santos Guerreiro - psg@negocios.pt |
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